domingo, 29 de novembro de 2009


José Luiz de Souza MesquitaChef executivo de Taubaté fala de sua afinidade e amor pela gastronomia que o levou até para cozinhas internacionaisTaubatéAndré Leite


José Luiz de Souza Mesquita é o tipo de pessoa com quem você passa horas conversando sem sentir o tempo passar. O atual chef executivo do San Michel Palace Hotel, em Taubaté, já trabalhou nos restaurantes mais conceituados do Rio de Janeiro e São Paulo. Em entrevista ao valeparaibano, com muita simpatia, ele nos contou um pouco sobre a sua trajetória.



Como foi a sua primeira experiência com cozinha?

Quando terminei o ensino médio, meu irmão já trabalhava há um ano como cozinheiro em um restaurante no Rio de Janeiro. Ele vivia me convidando para trabalhar com ele, até que um dia aceitei. Comecei como ajudante de cozinha, lavando a louça, mas achava aquele lugar muito agitado e barulhento. Mas aos poucos fui me adaptando.



E quando teve a oportunidade de trabalhar como cozinheiro e depois como chef?

O meu gerente me levou para trabalhar em outra empresa. Um dia o cozinheiro faltou e eu assumi o lugar dele. Acabei ocupando a vaga durante um ano. Depois de algum tempo recebi a proposta para trabalhar no restaurante lá do morro da Urca, onde me tornaria chef do meu irmão, aquele que tinha me convidado para o primeiro emprego de ajudante. Depois disso fui convidado pelo chef executivo do "Copacabana Palace" para assumir o restaurante do hotel. Lá fiquei por dois anos e meio, e logo em seguida fui para o "Clube de Golf" do Rio.



Depois disso você veio para São Paulo?

Na verdade eu estava no restaurante Mesquita, da Claudia Vasconcellos Marques. Tínhamos feito um jantar para 5.000 pessoas, no hotel Marina da Glória para a TV Globo. Era a final do Prêmio Multishow. Nessa noite, o gerente do Terraço Itália me convidou para trabalhar com ele em São Paulo. Eu fui e fiquei por três anos. Saí do Terraço Itália para remodelar o cardápio do bufê da Leila Maluf, em Cuiabá (MT) pois ela recebia políticos e fazia eventos importantes e precisava de um cardápio mais elaborado. Depois de Cuiabá voltei para São Paulo, para a Mercearia do Conde (cozinha tailandesa), até que o Paulo Tadeucci, proprietário da Toscana, em Taubaté, me trouxe para inaugurar a Toscana do Shopping. Foi um sucesso. Fomos eleitos por dois anos como "A melhor casa italiana do Vale do Paraíba".



Como foi trabalhar no Terraço Itália?

Muito marcante. Consegui elevar o número de refeições mensais de 9.000 para 11 mil. Também consegui fazer uma grande redução de custos.



Hoje você é chef de cozinha do Skydeck?

Chef executivo. Um mês depois que sai da Toscana fui convidado para fazer um evento no San Michel Palace Hotel. Acabei ficando durante um mês aqui até ser convidado para ser chef de cozinha do restaurante. Mais aí logo surgiu o projeto do Skydeck e passei a administrar os dois.



E a sua experiência como professor do Senac?

Foi uma experiência muito gratificante porque coloquei diversos alunos meus no mercado de trabalho. Tenho ex-alunos que trabalham na República Tcheca, no Japão, na Angola...



Você também já trabalho no exterior, não é?

Sim. Em 1997 participei de um concurso, disputado por todas as escolas de gastronomia do Senac, em que os chefs treinam um aluno que o representa elaborando um prato. Aí meu aluno venceu a competição. Ele ganhou um treinamento no Caesar Park, no Rio de Janeiro, e eu no Meson, na Suiça. Lá aprendi muitas coisas. Várias não se aplicam no Brasil, porque são coisas que encarecem muito as receitas, mas aprendi, por exemplo, como lidar com molhos.



Qual habilidade é indispensável para um chef?

O chefe precisa conhecer o que está fazendo. Ele é como um homeopata. Não pode sair jogando tudo o que vê pela frente dentro da panela. Ele tem que saber agregar sabores. Eu, por exemplo, faço uma fusão de comida tailandesa com italiana, mesclo desde os sabores até o modo de montar. Minha maior felicidade é preparar um prato, e depois ver que ele voltou vazio. Antigamente a cozinha era lugar de quem não tinha oportunidade para estudar, mas hoje você tem que ser profissional.



Você acha que as escolas de gastronomia tem papel importante nesse contexto?

Antes de falar do Brasil vou dar um exemplo da França. Lá, aos 13 anos o jovem que decide pela área da gastronomia já começa a estudar. Depois de cinco anos ele sai da escola formado. É impressionante porque eles reconhecem pelo cheiro o tempero que está sendo usado.



E o que você acha desses chefs que dizem ter "segredos" que não podem ser revelados?

Muitos deles não têm o verdadeiro conhecimento, não têm certeza do que fazem e por isso são inseguros. Há vaga para todo mundo, que é bom é claro. Ninguém tira o espaço de ninguém, e quem é bom de verdade escolhe onde quer trabalhar. Eu faço questão de ensinar tudo o que aprendi. Fui fazer escola de gastronomia depois de ter trabalhado três anos como chef de cozinha. Fiz a prova com 10 caras, nessa época eu tinha 26 anos, e me tornei o chef mais novo do Senac do Rio de Janeiro. O chef é um pesquisador e um propagador de informações.



O que o chef Mesquita gosta de fazer quando está de folga?

Tocar violão. Aliás, aprendi a tocar violão por acidente. Estava abastecendo o freezer de bebidas e uma das garrafas estourou e rasgou meu braço. Perdi tanto sangue que entrei em coma. Depois vieram as complicações porque o líquido do meu cotovelo secou e não conseguia mexer o braço mais. Ai o médico me sugeriu, como fisioterapia que eu emprestasse o violão de alguém e tentasse tocar. Deu tão certo que toco até hoje. Cheguei a ajudar um amigo a compor o samba da escola Tradição, em 1995. Era meu sonho! Achava que aquilo era uma prova de cultura sem tamanho. Na ocasião escrevemos sobre a história da roda.

domingo, 22 de novembro de 2009



Tem gringo no sambaApós conhecer música brasileira em S. José, grupo finlandês Maria Gasolina faz sucessos com versões da MPBSão José dos CamposAndré Leite


foto: divulgação

"Quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé". O trecho do "Samba da Minha Terra", de Dorival Caymmi, nunca teve nada de pretensioso. A nossa MPB faz sucesso há muito tempo, mundo afora, e a prova mais recente disso é o fenômeno de vendas do grupo Maria Gasolina. De origem finlandesa, a banda vem se destacando no país, tocando versões de músicas brasileiras.


A história começou há mais de 10 anos, quando a vocalista do grupo, Lissu Lehtimaja, teve a oportunidade de conhecer Caetano Veloso e Milton Nascimento. Na ocasião, a jovem estava em São José dos Campos, fazendo um intercâmbio cultural e ficou apaixonada pela nossa música.

Interessante é que o repertório da banda não tem espaço só para as canções mais antigas, como "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" (Hyldon) e "Saudade Fez um Samba" (Carlos Lyra). Lissu também roubou o "Cara Valente" da musa da nova MPB, Maria Rita.

O segundo CD do Maria Gasolina, "Ma olen sun" (2008), um dos mais vendidos na Finlândia, ainda traz outras três versões de músicas de Jorge Ben Jor - "Bebete Vãobora", "Pulo Pulo" e "Carolina Carol Bela" e, é claro que não poderia faltar um grande sucesso na voz de Elis Regina. "Haloo haloo marsilainen" é a versão nórdica de "Alô Alô Marciano". E não pense você que Lissu resistiu ao jeito divertido de Elis de interpretar a canção. A sonoridade também ficou bem parecida com a original.

O primeiro álbum do grupo, "Se jokin" (2006), não fez tanto sucesso quanto o segundo, mas abriu as portas para a nossa música no país. As traduções despretensiosas de Lissu foram ganhando espaço e os finlandeses provaram que não são maus sujeitos. Agora, influenciados por tanta música boa, só precisam aprender a sambar como nós.

Mas a história do Maria Gasolina não é fato isolado. Muitos outros compositores brasileiros já ouviram suas composições na voz de intérpretes de outras nacionalidades.

VERSÕES - Sérgio Mendes lançou em 1966 uma versão da canção "Mas que nada" em seu album "Sérgio Mendes & Brazil '66 " e se tornou um grande sucesso nas paradas norte-americanas. A partir daí surgiria outras inúmeras versões feitas por artistas renomados como Ella Fitzgerald, Al Jarreau, Trini Lopez e José Feliciano.

Em 2004, o grupo Black Eyed Peas entrou para a lista dos artistas que regravaram a canção de Mendes. A versão "Hey Mama", do álbum "Elephunk" fez grande sucesso na Europa e chegou a lista das mais tocadas na parada "Hot Dance Music/Club Play", da Billboard. No mesmo álbum, o Black Eyed Peas fez outra declaração de amor à música brasileira usando samples da bossa nova "Insensatez", de Tom Jobim, na faixa "Sexy".

Falando em bossa, "O Barquinho", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, já ganhou uma interpretação oriental, na voz da japonesa Tomoko Nozawa, que canta várias músicas em português. E se é difícil entender Tomoko, o que dizer da islandesa Bjork, cantando "Travessia", de Milton Nascimento?

Outra japonesa que se rendeu aos encantos da MPB foi Miho Hatori. Mas desta vez, a música escolhida foi "Paraíba" do pernambucano Luiz Gonzaga. O Rei do Baião também conseguiu emplacar algumas versões de "Asa Branca" (White Wings) fora do país. O clássico da música brasileira foi regravado por artistas estrangeiros, como o grego Demis Roussus, e o escocês David Byrne.

"A Banda", depois de ter dado o prêmio do Festival de Música Popular Brasileira para Chico Buarque (1966), também virou produto de exportação e ganhou o mercado alemão na voz da francesa France Gall. No final da década de 1960, a cantora ficou conhecida no país e seu repertório contemplava "Zwei Apfelsinen im Haar", uma versão da canção de Chico.

Voltando um pouco mais na história, vale a pena lembrar da alemã Marlene Dietrich que se apresentou ao vivo no Rio de Janeiro em 1959. Entre as canções interpretadas no show estava a emocionante versão de "Luar do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco.


Música Vinicius e Tom Jobim divulgaram Brasil no mundoPixinguinha foi outro nome que expandiu as fronteiras da música nacionalSão José dos CamposAndré Leite

foto: divulgação

É claro que não poderíamos falar da influência da MPB no cenário mundial, sem citar as importantes participações de Vinicius de Moraes e de Tom Jobim. Quem não se lembra da versão "The Girl from Ipanema" na voz do saudoso Frank Sinatra.

Mas a idealizadora e curadora da Semana da Canção Brasileira, realizada em São Luís do Paraitinga, Suzana Salles, lembra que mesmo antes da bossa nova romper as barreiras nacionais e conquistar inúmeros fãs estrangeiros, Pixinguinha já era respeitado lá fora.

"Pixinguinha consegui fazer uma troca bastante frutífera com músicos internacionais, principalmente com o Jazz e o Chorinho. Mas foi a Bossa que consolidou a aceitação da MPB e mostrou o quanto nós poderíamos ser originais com nossa música", afirma Suzana. Quanto ao Tropicalismo, apesar de incorporar várias influências, inclusive estrangeiras, Suzana acredita que sua função foi mostrar o quanto nossos artistas são criativos, revelando a nossa diversidade.

Chistopher Dunn, professor da Tulane University, em New Orleans, escreveu um livro, em 2001, intitulado "Brutality Garden: Tropicália and the Emergence of a Brazilian Counterculture" (Jardim da Brutalidade: Tropicália e a Emergência da Contracultura Brasileira), onde faz referência ao movimento.

Em um de seus artigos Dunn afirma que o estopim para provocar uma mudança em como a música brasileira era ouvida no exterior foi o lançamento do álbum de Tom Zé, o "Massive Hits" (1990), uma coletânea de músicas gravadas na década de 1970.

"Eu comecei a escutar a música popular brasileira quando estudava na faculdade em meados da década de 1980. Naquele tempo, a música brasileira era geralmente ouvida nos Estados Unidos como uma vertente latina do jazz, devido ao impacto profundo da bossa nova nos anos 60. Milton Nascimento, por exemplo, não era conhecido por seu trabalho junto com o Clube da Esquina, e sim por sua colaboração com o saxofonista Wayne Shorter no disco Native Dancer de 1975, uma marca na história do jazz fusion", afirma o professor.

No mesmo artigo, ele conta que Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa eram comentados, mas a Tropicália não era conhecida fora do circuito universitário de alguns professores brasilianistas e seus alunos.

O album de Tom Zé, segundo Dunn, chegou com a força de uma revelação: música popular brasileira "de vanguarda" que dificilmente podia ser enquadrada dentro do esquema world music, apesar de ser premiada nessa categoria pela revista Billboard.

A cantora Suzana Salles acredita que ainda há muita coisa para ser mostrada lá fora e que muitos outros grupos, como o filandes "Maria Gasolina", vão recorrer 'às nossas preciosidades'. "Na semana que vem acontece uma mostra de viola em Londres, e dois brasileiros estarão lá: Pereira da Viola e Ivan Vilela. Isso porque é cada vez mais comum a presença de brasileiros em festivais internacionais de música. Aqui temos uma mina de ouro e tomara que eles (músicos estrangeiros) continuem descobrindo isso", diz Suzana.


Veja as versões citadas na matéria neste link:

http://www.valeparaibano.com.br/valeviver/



Giuseppe AmbrosanoCap de um dos pontos comerciais mais tradicionais de São José conta os segredos do seu sucessoSão José dos CamposAndré Leite

foto: Diego Migotto

Giuseppe Ambrosano, aos 63 anos, se sente uma homem realizado. Sem grandes ambições, ele administra, ao lado da esposa e do casal de filhos, um dos pontos comerciais mais tradicionais da cidade, a Marinella Doceria. O italiano veio para o Brasil ainda criança e aqui descobriu o gosto pelo trabalho de confeiteiro e salgadeiro.



Como o senhor começou a trabalhar com confeitaria?

Foi aqui no Brasil. Minha família tinha acabado de chegar da Itália e nós fomos morar em São Paulo. Um primo meu tinha padaria na Mooca e, como meu pai não queria que eu ficasse na rua, me levou para trabalhar com ele. Lá aprendi a fazer doces, salgados e tudo o que sei hoje.



Como o senhor chegou a São José dos Campos?

Vim para São José dos Campos logo depois que casei, em 1970. Recebi a proposta de um dos meus melhores clientes lá de São Paulo para vir para cá e montarmos, juntos, nosso negócio. Foi quando nasceu a Antonella, onde fiquei por oito anos.



A Marinella também nasceu dessa sociedade?

Não. Eu vendi minha parte da Antonella porque meu sócio queria colocar um gerente para administrar nosso negócio. Mas eu e minha mulher estávamos acostumados a trabalhar e não aceitamos a proposta. A Marinella foi inaugurada em janeiro de 1984. Foi um sucesso, pois nós recebemos mais de 500 pessoas aqui naquele dia. Mais foi um projeto que nasceu do zero, com muito sacrifício, esforço e acima de tudo trabalho.



A que o senhor atribui esse sucesso?

Logo no início coloquei as mesas lá fora, para que os clientes pudessem ficar mais à vontade. Era uma proposta nova e foi aprovada por todos. A Marinella virou ponto de encontro nos finais de semana. Aliás era uma época boa, o povo chegava a fechar a rua. Não se via uma briga. Era a mehor mocidade de todos os tempos. Hoje muitos daqueles jovens trazem seus filhos para conhecer nossa casa, é muito gratificante.



A cozinha da Marinella esconde algum segredo de confeitaria?

Nós trabalhamos com produtos naturais, frescos, essa é a diferença. A grande maioria dos estabelecimentos, hoje, trabalha com produtos industrializados, chantilly de caixinha e por aí vai. A aparência é ótima, mas o gosto...



O senhor não pensa em montar filiais da Marinella?

Não. E não foi por falta de proposta. Já recebi vários convites para abrir franquias, mas acho que não compensa. Você demora anos para construir uma imagem e conquistar a confiança do público. De repente abro uma franquia e um funcionário que não sabe trabalhar direito pode me comprometer. Estou muito satisfeito com o resultado do meu trabalho, recebi vários prêmios com indicação do estabelecimento. Zelo muito pelo respeito com os funcionários, fornecedores e clientes, principalmente. É fundamental qualidade no atendimento. Por isso gosto de acompanhar tudo de perto. Fico aqui no balcão do caixa observando se meus clientes estão satisfeitos.

]

Qual a dica que o senhor dá para quem está entrando nesse ramo agora?

Sempre trabalhei honestamente. É assim que você consegue sobreviver do comércio. Hoje vejo muitos jovens montando negócio achando que vão recuperar o dinheiro do investimento e ter lucro em alguns meses. É ilusão.



A Marinella também servia bufês. Por que pararam?

Até uns cinco anos atrás eu fazia bufês para festas e confraternizações. Mas comecei a me desanimar com a falta de garçons capacitados. Os melhores estão trabalhando nos grandes restaurantes. Os mais novos não sabem trabalhar. Você vai em festa hoje, as coisas ficam na mesa para você se servir. Não é mais como antigamente.



Falta gente qualificada nessa área?

Sim e isso é sério. Estou cansado porque não consigo achar bons profissionais nessa área. Hoje todo mundo que fazer informática. Os confeiteiros e salgadeiros estão s
umindo.



Cozinhas abertasReportagem do valeparaibano visita cozinha de cinco restaurantes da região e constata: consumidor exerce pouco os seus direitosSão José dos CamposAndré Leite


Comer fora de casa faz parte da rotina de milhões de trabalhadores brasileiros e pesquisas recentes mostram que esse número tende a crescer significativamente nos próximos anos devido à correria do dia a dia, o difícil trânsito entre o local de trabalho e a residência, ou, simplesmente, pela comodidade. Mas será que essa parcela da população se preocupa com a qualidade dos alimentos consumidos e conhecem os ambientes onde eles são preparados?

Em 2004, o então deputado Adelor Vieira (PMDB/SC) criou o projeto de lei 3715/04, que dispunha sobre a permissão de acesso aos seus clientes, às cozinhas dos estabelecimentos fornecedores de refeições em todo território nacional.

Orientada por essa lei, a equipe de reportagem do valeparaibano visitou, na última semana, cinco estabelecimentos, sendo quatro de São José dos Campos e um de Taubaté, a fim de comprovar o cumprimento ou não da mesma. Entre os estabelecimentos visitados em São José dos Campos, estavam o Barbaresco (Vale Sul Shopping), a Cantina da Nena, o Macarronada Italiana e o Bar Coronel. Em Taubaté, o restaurante Toscana.

Para realizar o teste, nossa equipe foi orientada a não se identificar, realizar uma refeição em cada local visitado e, em seguida, pedir para conhecer a cozinha do estabelecimento. O objetivo era que nosso pedido fosse recebido como o de qualquer outro cliente.

Dos cinco restaurantes visitados, nenhum negou acesso às dependências onde os alimentos são higienizados e preparados e também não apresentaram nenhuma deficiência aparente. Lixos fechados, ambientes limpos, manipuladores de alimentos paramentados e alimentos devidamente conservados.

Todos os fornecedores de refeições foram comunicados, posteriormente, sobre o objetivo da visita realizada pela reportagem do jornal e tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões sobre o assunto.

RESTAURANTES - Segundo a proprietária do restaurante Barbaresco, Tânia Maria de Oliveira, muitas pessoas se sentem seguras quando estão usufruindo dos serviços oferecidos por empresas que possuem uma marca forte, e isso pode ser uma justificativa para o fato de que o número de consumidores interessados em conhecer as cozinhas desses estabelecimentos seja reduzida.

"Outro fator que influencia é a correria do dia a dia. Normalmente nossos clientes estão em horário de almoço e não tem muito tempo. Por isso ficamos dias sem receber pedidos como esse, às vezes até semanas. Mas sempre que é feita a solicitação, atendemos prontamente e nos sentimos orgulhosos", afirma Tânia.

Na Cantina da Nena, o convite para conhecer os ambientes onde os alimentos são manipulados e preparados parte da direção da casa. "Quando percebemos que é um cliente que vem ao restaurante com uma certa freqüência, faço o convite para que ele conheça nossa cozinha. Acho que é importante, afinal não temos o que esconder", diz Renato Sarlo, gerente de alimentos e bebidas da Cantina.

Para Rosa Okamoto, proprietária do Macarronada Italiana, esse tipo de atitude faz parte de uma cultura ainda pouco estimulada, e os números não deixam mentir. Paulo Tadeucci, proprietário do restaurante Toscana, divide a opinião com Rosa e afirma que se o quadro mudasse, todos seriam beneficiados.

"Os proprietários dos restaurantes se sentem estimulados com esse tipo de atitude, afinal é um incentivo para que a equipe mantenha tudo dentro da ordem e com melhor qualidade possível. Quem ganha com isso é o cliente", diz.

O gerente do Bar Coronel, Cristiano Wilson dos Santos, acredita que o baixo número de clientes interessados em conhecer os espaços onde os alimentos são preparados, no bar, está ligado ao fato de a cozinha ter boa vizibilidade, tanto pelos clientes que estão próximos ao balcão, quanto pelos que estão do lado de fora, na calçada.

"Mas isso não justifica a falta de interesse com outros ambientes que não possuem essa estrutura física como a nossa. Acho que é algo importante, um hábito que precisa ser trabalhado".


Restaurantes confirmam a pouca frequênciaSão José dos Campos

Se de um lado registramos a disponibilidade das equipes dos estabelecimentos em receber seus clientes nos ambientes onde os alimentos são higienizados e preparados, de outro, constatamos a despreocupação dos consumidores com a qualidade dos serviços oferecidos nesse tipo de estabelecimento.

Todos os proprietários dos restaurantes afirmaram que esse tipo de pedido é feito com pouca ou nenhuma frequência. No Procon (Orgão de Defesa do Consumidor) das duas cidades também não há registros de reclamações nesse sentido.

A assessoria de imprensa do Procon-SP afirma que área de alimentos, em 2007, foi responsável por apenas 51 das 22.831 reclamações fundamentadas. O equivalente 0,22% do total. Nenhuma delas se refere à empresas que servem refeições. Por essa razão, a Fundação não desenvolve nenhum ranking específico no setor de alimentos.

Apesar da fiscalização dos alimentos ser realizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em parceria com os orgãos municipais das secretarias de Saúde, Adelor Vieira previa no seu projeto de lei a deficiência dos orgãos fiscalizadores com relação à mão de obra disponível e sua proposta era que os próprios consumidores se tornassem 'agentes de fiscalização'.

"Aqui na região a Vigilância Sanitária é bem atuante. Recebemos visitas a cada quatro meses, em média, mas isso não justifica a comodidade dos consumidores", afirma o gerente Cristiano.

terça-feira, 3 de novembro de 2009



Aloísio AmaralMister Terceira Idade fala sobre sua família de músicos, o trabalho na produção artística e lembranças de outros temposSão José dos CamposAndré Leite

foto: Bruno Fraiha

Mineiro de Juiz de Fora e joseense de coração há 50 anos, Aloisio Amaral diz que acabou de receber um prêmio dessa cidade: foi eleito o Mister Melhor Idade e irá representar São José dos Campos no concurso estadual que será realizado no dia 29, na capital. O que nem todo mundo sabe é que o Mister de 62 anos, com 5 filhos e 8 netos, vem de uma família de 28 músicos e que foi um importante promotor de eventos da região.



Como o senhor foi escolhido para representrar a cidade no Mister Estadual da Melhor Idade 2009?

Eu participo das atividades da Casa do Idoso e recebi um convite para participar do Mister Melhor Idade da cidade. Para a minha surpresa, fui o primeiro colocado. Agora vou participar da seleção estadual, que acontece no dia 29, no Simon Bolivar, no Memorial da América Latina. Mas nunca havia participado de desfiles. Eu sempre estive nos palcos, mas apresentando shows.



Você trabalha há 40 anos com promoção de eventos. Como você se interessou por essa área?

Eu recebi um convite, na década de 1970, do meu grande amigo Sérgio Weiss para juntos montarmos a "Ímpar Representações Artísticas". Com essa empresa nós levamos o nome dessa cidade para mais de 600 cidades do país. Naquela época trabalhávamos com conjuntos como o Biriba Boys, a Brazilian Modern Six, o Esquema Novo e a Século Vinte. Além disso tive a oportunidade de trazer para o país alguns nomes importantes da cena musical internacional, como Johnny Mathis, The Platters, Manolo Otero e o grande Ray Conniff.



E dos artistas brasileiros, há alguma história interessante?

Há várias! Uma vez tive o prazer de entrevistar a Elis Regina. Na época eu tinha um jornal, o Ímpar News, que era uma publicação mensal. A cada mês nós homenageávamos um clube e um artista. Aí consegui chegar até a Elis e ela me concedeu uma entrevista de 40 minutos, em São Paulo. Foi um momento especial e muito emocionante. Uma outra situação, desta vez engraçada, foi durante um show que o Sérgio Reis veio fazer aqui em São José, no aniversário da cidade. No mesmo dia o Palmeiras iria enfrentar o Corinthians e ele me desafiou. Ele é palmeirense e se o time dele perdesse ele iria vestir a camisa do Corinthians durante o show... e foi o que aconteceu. Outra coisa muito bacana desse trabalho foi poder receber o Gonzaguinha e o Djavan na minha casa. Eles diziam que tinham prazer em ficar hospedados na minha casa. Quando vinham pra cá traziam a família toda, comiam o que minha mãe preparava. O bom é que eu não tinha grandes despesas (risos)



O festival "Sabiás de Ouro" também era organizado por você?

Sim e esse era um projeto muito legal que realizávamos no Cine para Todos, na rua Coronel Monteiro. O falecido Taiguara era um dos jurados desse evento. Alguns dos vencedores desse festival foram os compositores Roberto Wagner e o Jota Moraes e o cantor Luiz Antonio, que foi vocalista do Biriba Boys e morreu em Paris, depois de ter feito 20 anos de sucesso lá.



Por conta desse envolvimento com música você também chegou a gravar um CD?

Sim, eu sempre gostei muito de música. Quando tive a idéia de gravar o CD não queria que ele tivesse fins comerciais. Gravei para poder presentear meus grandes amigos. Selecionei 10 músicas românticas que gosto e aproveitei a família musical que Deus me deu e reuni todo mundo nesse trabalho.



Na sua família também há muitos músicos?

No total são 28 músicos profissionais. Alguns deles muito conhecidos como o maestro Aluizio Pontes, o Jota Moraes (Maria Rita), Caixote (Faustão), o Maurício Piassarolo (Pe. Fábio de Melo), o Dodo (tecladista do Zé Ramalho há 13 anos), entre outros. Dos meus cinco filhos, só o Beto não é músico. O André, o Renato, o Branco e a Preta Pontes formaram um grupo, o "Tudo a Ver", que hoje se chama "Sonho Família".



Você também compõe?

Sim. Inclusive há uma história bacana sobre isso. Compus uma música, em 2007, intitulada "Sempre", durante um período que passei com minha mãe em Juiz de Fora. Aí o Aluizio Pontes fez uma parceria comigo e colocou a melodia. Agora recebemos a grande notícia de que "Sempre" será gravada pelo querido padre Fábio de Melo.



Você organizou grandes eventos aqui na cidade e até em Brasília, para os ministros e senadores. Como foi essa experiência?

O Mário Galvão era funcionário da Embraer e conhecia o trabalho da nossa empresa de eventos. Quando ele foi trabalhar em Brasília, no início da década de 1970, nos indicou para organizar esse baile. O avião do então presidente veio nos buscar aqui. Na ocasião levamos a Brazilian Modern Six para tocar.



E os bailes que você promovia aqui na cidade?

Isso foi na época do Estrela Dalva Dança que era um clube que ficava na região onde hoje é o CenterVale. Nós mantivemos a casa aberta por 10 anos e a cada final de semana reuníamos cerca de 3.000 pessoas na casa. O sucesso era garantido com a qualidade das músicas e conjuntos que apresentávamos. Infelizmente hoje há pouco espaço para esse tipo de evento.



Você acha que isso se deve ao fato do jovem ter perdido um pouco desse romantismo?

Há uma série de fatores. Na minha época os músicos tocavam de verdade, não havia playback. Os conjuntos que se apresentavam pela minha empresa também ganhavam a quantia justa por cada show apresentado. Eles liam partitura, e isso era uma demonstração de respeito ao público. A música bem tocada hoje é pouco valorizada. Uma pena porque ela poderia orientar e educar a nossa juventude, sem falar que ouvir música de qualidade é uma terapia. É por isso que continuo lutando por ela, com minha empresa, a Aloisio Amaral, que já realizou mais de 5000 eventos, e a orquestra Silver Star.

Natureza é matéria-prima de arteExposição do artista João Carlos Gonçalves traz mais de 70 esculturas em madeira ao Espaço das Artes Helena Calil, em S. JoséSão José dos Campos

André Leite

Revelar a simplicidade da vida. Esta é a proposta da mostra "Segunda Natureza", do arquiteto e artesão João Carlos Gonçalves, que acontece até o dia 24 no Espaço das Artes Helena Calil, em São José dos Campos.

João Carlos sempre esteve muito ligado à natureza. E foi esta afinidade com o natural que o inspirou na composição da exposição que reúne mais de 70 esculturas de madeira, feitas a partir de resquícios coletado em caçambas ou na própria natureza, durante mais de 15 anos.

Segundo o artesão, este é um trabalho que surgiu de uma necessidade terapêutica. "Muita gente critica esse tipo de obra ou a classifica como introspectiva. Na verdade tenho prazer imenso em trabalhar com esses materiais pois eles mexem com a nossa essência", afirma.

Na definição do arquiteto, a primeira natureza está relacionada ao material, ao corpo. A segunda, que inspira sua exposição, revela a simplicidade da vida e tudo aquilo que nos completa.

Cada peça tem uma história. Uma que tem um significado especial é o pedaço de uma árvore sobre a qual ele descansava durante seus passeios de bicicleta às margens do Rio Parateí. Uma vez João passou pelo local e a árvore não estava mais lá, somente alguns de seus pedaços.

Outros objetos foram recolhidos no Banhado e às margens do Rio Paraíba do Sul. Muitos deles foram transformados em obras batizadas com nomes de animais, devido a semelhança com a forma dos mesmos.

FRAGMENTOS - "Segunda Natureza" também reserva espaço para algumas peças arquitetônicas fragmentadas. "A ideia é criar um prisma de ambiguidade entre o industrial e o natural. Revelar a existência ou não da interferência do homem", diz.

A montagem da exposição demorou três meses, durante os quais o artista mal dormiu. "Esta é minha primeira exposição e fiquei muito ansioso, porque queria tudo do meu jeito, então tive que trabalhar muito".

João Carlos afirma que seu trabalho não adere ao modismo criado em torno das questões ligadas ao ambientalismo e relata que sempre encontrou muita dificuldade para ter sua obra reconhecida, inclusive entre os membros da sua família.

"Minha mãe também não acreditava no meu trabalho mas essa temática sempre fez parte da minha ideologia, por isso insisti. Esta é a minha primeira exposição. Só agora me sinto seguro para mostrar o meu trabalho", diz.

Formado em arquitetura, João Carlos dedicou parte do seu trabalho ao paisagismo. Trabalhou em uma empresa do ramo na capital, mas o forte apego ao trabalho artísitico o trouxe de volta para desenvolver suas obras na região.

PROJETOS - João Carlos Gonçalves está produzindo uma série de aviões, réplicas das criações de Santos Dumont, que integrarão uma exposição que será sediada a partir desta quinta-feira no Sesc de Taubaté. "É um projeto interessante pois as réplicas são construídas a partir de palitos de churrasco, bambu, papel reciclado e linha".

Além disso, o artesão pretende levar a mostra "Segunda Natureza" para outros espaços e à medida que as obras forem vendidas, a exposição irá sofrendo transformações. "Tenho material para montar pelo menos mais duas exposições como essa. Então ela pode se renovar com o passar do tempo".

O artesão também tem a intenção de dar continuidade à sua vivência acadêmica e está se preparando para iniciar o Mestrado no Instituto de Artes da Unicamp (Universidade de Campinas).

"Segunda Natureza", de João Carlos Gonçalves, até dia 24 no Espaço das Artes Helena Calil. Visitas monitoradas pelo artista podem ser agendadas pelo telefone (0xx12) 3921-7206. Aberta de 2º a 6º, das 9h às 18h, e aos sábados, das 9h às 13h. Praça Padre João, 34, centro, São José dos Campos.