domingo, 22 de novembro de 2009



Tem gringo no sambaApós conhecer música brasileira em S. José, grupo finlandês Maria Gasolina faz sucessos com versões da MPBSão José dos CamposAndré Leite


foto: divulgação

"Quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé". O trecho do "Samba da Minha Terra", de Dorival Caymmi, nunca teve nada de pretensioso. A nossa MPB faz sucesso há muito tempo, mundo afora, e a prova mais recente disso é o fenômeno de vendas do grupo Maria Gasolina. De origem finlandesa, a banda vem se destacando no país, tocando versões de músicas brasileiras.


A história começou há mais de 10 anos, quando a vocalista do grupo, Lissu Lehtimaja, teve a oportunidade de conhecer Caetano Veloso e Milton Nascimento. Na ocasião, a jovem estava em São José dos Campos, fazendo um intercâmbio cultural e ficou apaixonada pela nossa música.

Interessante é que o repertório da banda não tem espaço só para as canções mais antigas, como "Na Rua, na Chuva, na Fazenda" (Hyldon) e "Saudade Fez um Samba" (Carlos Lyra). Lissu também roubou o "Cara Valente" da musa da nova MPB, Maria Rita.

O segundo CD do Maria Gasolina, "Ma olen sun" (2008), um dos mais vendidos na Finlândia, ainda traz outras três versões de músicas de Jorge Ben Jor - "Bebete Vãobora", "Pulo Pulo" e "Carolina Carol Bela" e, é claro que não poderia faltar um grande sucesso na voz de Elis Regina. "Haloo haloo marsilainen" é a versão nórdica de "Alô Alô Marciano". E não pense você que Lissu resistiu ao jeito divertido de Elis de interpretar a canção. A sonoridade também ficou bem parecida com a original.

O primeiro álbum do grupo, "Se jokin" (2006), não fez tanto sucesso quanto o segundo, mas abriu as portas para a nossa música no país. As traduções despretensiosas de Lissu foram ganhando espaço e os finlandeses provaram que não são maus sujeitos. Agora, influenciados por tanta música boa, só precisam aprender a sambar como nós.

Mas a história do Maria Gasolina não é fato isolado. Muitos outros compositores brasileiros já ouviram suas composições na voz de intérpretes de outras nacionalidades.

VERSÕES - Sérgio Mendes lançou em 1966 uma versão da canção "Mas que nada" em seu album "Sérgio Mendes & Brazil '66 " e se tornou um grande sucesso nas paradas norte-americanas. A partir daí surgiria outras inúmeras versões feitas por artistas renomados como Ella Fitzgerald, Al Jarreau, Trini Lopez e José Feliciano.

Em 2004, o grupo Black Eyed Peas entrou para a lista dos artistas que regravaram a canção de Mendes. A versão "Hey Mama", do álbum "Elephunk" fez grande sucesso na Europa e chegou a lista das mais tocadas na parada "Hot Dance Music/Club Play", da Billboard. No mesmo álbum, o Black Eyed Peas fez outra declaração de amor à música brasileira usando samples da bossa nova "Insensatez", de Tom Jobim, na faixa "Sexy".

Falando em bossa, "O Barquinho", de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, já ganhou uma interpretação oriental, na voz da japonesa Tomoko Nozawa, que canta várias músicas em português. E se é difícil entender Tomoko, o que dizer da islandesa Bjork, cantando "Travessia", de Milton Nascimento?

Outra japonesa que se rendeu aos encantos da MPB foi Miho Hatori. Mas desta vez, a música escolhida foi "Paraíba" do pernambucano Luiz Gonzaga. O Rei do Baião também conseguiu emplacar algumas versões de "Asa Branca" (White Wings) fora do país. O clássico da música brasileira foi regravado por artistas estrangeiros, como o grego Demis Roussus, e o escocês David Byrne.

"A Banda", depois de ter dado o prêmio do Festival de Música Popular Brasileira para Chico Buarque (1966), também virou produto de exportação e ganhou o mercado alemão na voz da francesa France Gall. No final da década de 1960, a cantora ficou conhecida no país e seu repertório contemplava "Zwei Apfelsinen im Haar", uma versão da canção de Chico.

Voltando um pouco mais na história, vale a pena lembrar da alemã Marlene Dietrich que se apresentou ao vivo no Rio de Janeiro em 1959. Entre as canções interpretadas no show estava a emocionante versão de "Luar do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco.


Música Vinicius e Tom Jobim divulgaram Brasil no mundoPixinguinha foi outro nome que expandiu as fronteiras da música nacionalSão José dos CamposAndré Leite

foto: divulgação

É claro que não poderíamos falar da influência da MPB no cenário mundial, sem citar as importantes participações de Vinicius de Moraes e de Tom Jobim. Quem não se lembra da versão "The Girl from Ipanema" na voz do saudoso Frank Sinatra.

Mas a idealizadora e curadora da Semana da Canção Brasileira, realizada em São Luís do Paraitinga, Suzana Salles, lembra que mesmo antes da bossa nova romper as barreiras nacionais e conquistar inúmeros fãs estrangeiros, Pixinguinha já era respeitado lá fora.

"Pixinguinha consegui fazer uma troca bastante frutífera com músicos internacionais, principalmente com o Jazz e o Chorinho. Mas foi a Bossa que consolidou a aceitação da MPB e mostrou o quanto nós poderíamos ser originais com nossa música", afirma Suzana. Quanto ao Tropicalismo, apesar de incorporar várias influências, inclusive estrangeiras, Suzana acredita que sua função foi mostrar o quanto nossos artistas são criativos, revelando a nossa diversidade.

Chistopher Dunn, professor da Tulane University, em New Orleans, escreveu um livro, em 2001, intitulado "Brutality Garden: Tropicália and the Emergence of a Brazilian Counterculture" (Jardim da Brutalidade: Tropicália e a Emergência da Contracultura Brasileira), onde faz referência ao movimento.

Em um de seus artigos Dunn afirma que o estopim para provocar uma mudança em como a música brasileira era ouvida no exterior foi o lançamento do álbum de Tom Zé, o "Massive Hits" (1990), uma coletânea de músicas gravadas na década de 1970.

"Eu comecei a escutar a música popular brasileira quando estudava na faculdade em meados da década de 1980. Naquele tempo, a música brasileira era geralmente ouvida nos Estados Unidos como uma vertente latina do jazz, devido ao impacto profundo da bossa nova nos anos 60. Milton Nascimento, por exemplo, não era conhecido por seu trabalho junto com o Clube da Esquina, e sim por sua colaboração com o saxofonista Wayne Shorter no disco Native Dancer de 1975, uma marca na história do jazz fusion", afirma o professor.

No mesmo artigo, ele conta que Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa eram comentados, mas a Tropicália não era conhecida fora do circuito universitário de alguns professores brasilianistas e seus alunos.

O album de Tom Zé, segundo Dunn, chegou com a força de uma revelação: música popular brasileira "de vanguarda" que dificilmente podia ser enquadrada dentro do esquema world music, apesar de ser premiada nessa categoria pela revista Billboard.

A cantora Suzana Salles acredita que ainda há muita coisa para ser mostrada lá fora e que muitos outros grupos, como o filandes "Maria Gasolina", vão recorrer 'às nossas preciosidades'. "Na semana que vem acontece uma mostra de viola em Londres, e dois brasileiros estarão lá: Pereira da Viola e Ivan Vilela. Isso porque é cada vez mais comum a presença de brasileiros em festivais internacionais de música. Aqui temos uma mina de ouro e tomara que eles (músicos estrangeiros) continuem descobrindo isso", diz Suzana.


Veja as versões citadas na matéria neste link:

http://www.valeparaibano.com.br/valeviver/

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