domingo, 22 de novembro de 2009



Cozinhas abertasReportagem do valeparaibano visita cozinha de cinco restaurantes da região e constata: consumidor exerce pouco os seus direitosSão José dos CamposAndré Leite


Comer fora de casa faz parte da rotina de milhões de trabalhadores brasileiros e pesquisas recentes mostram que esse número tende a crescer significativamente nos próximos anos devido à correria do dia a dia, o difícil trânsito entre o local de trabalho e a residência, ou, simplesmente, pela comodidade. Mas será que essa parcela da população se preocupa com a qualidade dos alimentos consumidos e conhecem os ambientes onde eles são preparados?

Em 2004, o então deputado Adelor Vieira (PMDB/SC) criou o projeto de lei 3715/04, que dispunha sobre a permissão de acesso aos seus clientes, às cozinhas dos estabelecimentos fornecedores de refeições em todo território nacional.

Orientada por essa lei, a equipe de reportagem do valeparaibano visitou, na última semana, cinco estabelecimentos, sendo quatro de São José dos Campos e um de Taubaté, a fim de comprovar o cumprimento ou não da mesma. Entre os estabelecimentos visitados em São José dos Campos, estavam o Barbaresco (Vale Sul Shopping), a Cantina da Nena, o Macarronada Italiana e o Bar Coronel. Em Taubaté, o restaurante Toscana.

Para realizar o teste, nossa equipe foi orientada a não se identificar, realizar uma refeição em cada local visitado e, em seguida, pedir para conhecer a cozinha do estabelecimento. O objetivo era que nosso pedido fosse recebido como o de qualquer outro cliente.

Dos cinco restaurantes visitados, nenhum negou acesso às dependências onde os alimentos são higienizados e preparados e também não apresentaram nenhuma deficiência aparente. Lixos fechados, ambientes limpos, manipuladores de alimentos paramentados e alimentos devidamente conservados.

Todos os fornecedores de refeições foram comunicados, posteriormente, sobre o objetivo da visita realizada pela reportagem do jornal e tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões sobre o assunto.

RESTAURANTES - Segundo a proprietária do restaurante Barbaresco, Tânia Maria de Oliveira, muitas pessoas se sentem seguras quando estão usufruindo dos serviços oferecidos por empresas que possuem uma marca forte, e isso pode ser uma justificativa para o fato de que o número de consumidores interessados em conhecer as cozinhas desses estabelecimentos seja reduzida.

"Outro fator que influencia é a correria do dia a dia. Normalmente nossos clientes estão em horário de almoço e não tem muito tempo. Por isso ficamos dias sem receber pedidos como esse, às vezes até semanas. Mas sempre que é feita a solicitação, atendemos prontamente e nos sentimos orgulhosos", afirma Tânia.

Na Cantina da Nena, o convite para conhecer os ambientes onde os alimentos são manipulados e preparados parte da direção da casa. "Quando percebemos que é um cliente que vem ao restaurante com uma certa freqüência, faço o convite para que ele conheça nossa cozinha. Acho que é importante, afinal não temos o que esconder", diz Renato Sarlo, gerente de alimentos e bebidas da Cantina.

Para Rosa Okamoto, proprietária do Macarronada Italiana, esse tipo de atitude faz parte de uma cultura ainda pouco estimulada, e os números não deixam mentir. Paulo Tadeucci, proprietário do restaurante Toscana, divide a opinião com Rosa e afirma que se o quadro mudasse, todos seriam beneficiados.

"Os proprietários dos restaurantes se sentem estimulados com esse tipo de atitude, afinal é um incentivo para que a equipe mantenha tudo dentro da ordem e com melhor qualidade possível. Quem ganha com isso é o cliente", diz.

O gerente do Bar Coronel, Cristiano Wilson dos Santos, acredita que o baixo número de clientes interessados em conhecer os espaços onde os alimentos são preparados, no bar, está ligado ao fato de a cozinha ter boa vizibilidade, tanto pelos clientes que estão próximos ao balcão, quanto pelos que estão do lado de fora, na calçada.

"Mas isso não justifica a falta de interesse com outros ambientes que não possuem essa estrutura física como a nossa. Acho que é algo importante, um hábito que precisa ser trabalhado".


Restaurantes confirmam a pouca frequênciaSão José dos Campos

Se de um lado registramos a disponibilidade das equipes dos estabelecimentos em receber seus clientes nos ambientes onde os alimentos são higienizados e preparados, de outro, constatamos a despreocupação dos consumidores com a qualidade dos serviços oferecidos nesse tipo de estabelecimento.

Todos os proprietários dos restaurantes afirmaram que esse tipo de pedido é feito com pouca ou nenhuma frequência. No Procon (Orgão de Defesa do Consumidor) das duas cidades também não há registros de reclamações nesse sentido.

A assessoria de imprensa do Procon-SP afirma que área de alimentos, em 2007, foi responsável por apenas 51 das 22.831 reclamações fundamentadas. O equivalente 0,22% do total. Nenhuma delas se refere à empresas que servem refeições. Por essa razão, a Fundação não desenvolve nenhum ranking específico no setor de alimentos.

Apesar da fiscalização dos alimentos ser realizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em parceria com os orgãos municipais das secretarias de Saúde, Adelor Vieira previa no seu projeto de lei a deficiência dos orgãos fiscalizadores com relação à mão de obra disponível e sua proposta era que os próprios consumidores se tornassem 'agentes de fiscalização'.

"Aqui na região a Vigilância Sanitária é bem atuante. Recebemos visitas a cada quatro meses, em média, mas isso não justifica a comodidade dos consumidores", afirma o gerente Cristiano.

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